quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Quinta-feira un-.Chique

Olá cridos! Daqui a Fifi a postar, num dia que, como verão, não me correu lá muito bem…

11:30 da manhã: acordo, com odor a torradas acabadas de fazer a convidar-me a sair da cama. Teria o meu Viti acordado mais cedo e feito torradas, para mim? Eis que Júlia, uma das minhas empregadas, irrompe pelo quarto e diz:

- Senhora, o seu pequeno está na mesa. Hoje fiz-lhe três torradas, ao invés de quatro.
- Já vou, obrigado…
Não, Viti não me fizera nada. Desanimada, desci até à cozinha. Comi o pequeno-almoço e mandei preparar o carro que me levaria a casa da Bá, onde as três iríamos passar a tarde a conversar.
Vesti-me, depois de um banho rápido, e entrei no carro.

- Boa-tarde, Senhora. – disse-me o meu motorista, o Albertino.
- Para casa da minha amiga Bárbara, Jóia. – respondi, e acelerou.

Pelo caminho, o carro começou a fazer estranhos barulhos, barulhos que me preocuparam.
- Credo, crido. Passa-se alguma coisa? – perguntei.
- Nada, senhora. Não se preocupe. – assegurou-me Albertino. Como estava enganado…


Eis que, minutos depois, o carro pára, logo numa parte degradadérrima de Cascais, cheia de barracas, mulheres que não tomam banho, homens que cuspem para as paredes das suas casas. Um horror, como imaginam.
- Que se passa?
- Avariou, vou ver se arranjo.


Albertino saiu, e abriu o capô. Esteve lá 15 minutos, a mexer nas coisas. Voltou, depois, e disse:
- Não sei o que é, Senhora.
- Já podia ter dito, não acha? – respondi, e liguei ao serviço de apoio, chamando um reboque. Responderam-me que não iam àquela zona, que seriam assaltados se o fizessem. Desliguei, e informei o Albertino.
- Estamos fod…
- Não piore a situação dizendo palavrões, credo. – respondi eu, e olhei em volta.
Estava no meio de uma estrada cheia de fissuras, algures entre as ruas de um bairro cheio de casas em ruínas, cabanas e alguns motéis. Olhei mais atenciosamente e vi um cão a beber urina de um rapaz. Deitei o casaco de peles no banco de trás do carro e telefonei à Bá.
- Estou?
- Bá, vou chegar atrasada.
- Credo, Crida. Que se passa? – perguntou ela, e pude ouvir a voz da Fafa no fundo a perguntar quem era.
Contei-lhe o que se passara, aflita. Ela perguntou-me se queria que me viesse buscar mas eu, ao ver um táxi a passar naquele momento, respondi que não, correndo.

- Pare! – gritei, mas o homem seguiu, não me ouvindo. Fiquei furiosa, como imaginam. Como é possível fazer uma coisa daquelas? Peguei no telemóvel para ligar à Bá novamente e constatei que estava sem bateria, para mal dos meus pecados.
- Albertino, tem telemóvel consigo?
- Não, Senhora… não tenho telemóvel. – respondeu, e eu ia desmaiando de aflição. Recompus-me e disse: - Vá procurar ajuda!
- Aonde?
- Não sei, homem, desenrasque-se.
- Senhora, sei lá onde ir...
- Crido, ou vai procurar ajuda ou despeço-o. – respondi.
Face ao meu ultimato, Albertino afastou-se, e eu perdi-o de vista. Credo, estava sozinha no meio da pobreza degradante. Entrei no carro e tranquei as portas, olhando em redor.
Meia-hora mais tarde, continuava sozinha no carro, enrolada no casaco, a observar a rua. Estava deserta, chovia a cântaros. Esperei que a chuva parasse, coisa que só aconteceu uma eternidade depois.


Onde estaria o Albertino?, perguntei-me. Saí do carro e procurei alguém na paisagem que me rodeava. Mas nada, ninguém. Nem uma taverna ali perto. Onde estavam os motéis que vira antes do carro se avariar? Farta de estar ali à espera, vesti o casaco e comecei a percorrer a estrada, à procura de um telefone.
Já me doíam os pés quando encontrei um motel, ou aquilo que se parecia um motel, finalmente. Entrei, cautelosa, e vi-me numa espécie de recepção. Chamei por alguém, cansada, e apareceu-me uma mulher em lingerie.
- Boa-tarde. – disse, com sotaque brasileiro. – Desculpe mas nós aqui só atendemos homens.
Estava chocada, eu. Olhei-a de cima a baixo, e não disse nada por momentos. Depois, falei:
- Só queria usar o telefone, também…
- E vai me dizer que uma mulher como você, com essas roupas não tem telefone.
Contive-me para não me rir da sua fala, e respondi-lhe dizendo que estava sem bateria, e expliquei-lhe a situação. Mas ela, ao contrário do que esperei, perguntou-me se estava a gozá-la e insultou-me. Revoltada, disse-lhe para não me falar assim, que exigia respeito.
- Você merece respeito coisa nenhuma! – gritou ela. Tive a sensação de que ia partir para cima de mim quando Albertino, o meu motorista desaparecido, entra e diz:
- Senhora, arranjei um reboque.
- Não podia ter chegado em melhor hora, Crido!
- Vamos. – respondeu, e voltámos para o carro.

Mas, quando lá chegámos, o carro tinha desaparecido. Já não estava ali. O meu querido carro tinha sido roubado, por causa do meu motorista!
- Albertino, isto vai sair-lhe do bolso! – disse-lhe.
Esperámos ali, naquele sítio imundo, até que um homem passou por nós, carregado com tapetes, e parou.
- Por acaso não quer uns tapetinhos? São só dez euros…
- Não tem um telemóvel? – perguntei, já segurando o casaco no braço, exausta.
- Só tapetes.

- Siga viagem, vê-me com cara de quem precisa de tapetes?

Albertino e eu decidimos ir então até ao sítio onde ele arranjara ajuda, uma oficina velha, e entrámos. Cheirava a suor e a óleo, a borracha queimada. Decidi esperar cá fora, enjoada, e o meu motorista foi lá dentro. Encontrou o carro, e eles disseram-lhe que o trouxeram ali para adiantar trabalho. Afinal, não tinha sido roubado. Felicíssima, aproximei-me se já o podíamos levar. O homem disse-nos que já, mas que queria 200 euros pelo arranjo.
- Duzentos euros? – perguntei eu.
- Sim, duzentos euros.
Exausta demais para discutir, e mesmo sabendo que estava a ser “roubada”, perguntei:
- Aceita Visa?

Então, saímos de lá e Albertino levou-me de volta para casa, estava cansada demais para ir ter com as minhas amigas. Precisava de um banho, de relaxar. Desci do carro, mal chegámos a casa, e disse:- Aqueles duzentos euros vão ser-lhe descontados ao fim do mês, Jóia. – e entrei em casa.
Liguei à Bá, por fim, e meti-me na banheira, de onde só saí há bocado.

Dia Un-chique o meu, hã?

Beijo para vós, cridos



3 comentários:

Anônimo disse...

Ai crida, amei a sua historia... Voces realmente eram muito amigas, e a ler este post lembrei-me dos meus tempos de infância! beijos!

Anônimo disse...

Quero saber como isto acaba.. vai ter continuação, nao vai?

Anônimo disse...

É o que eu digo... nós aprendemos sempre alguma coisa convosco e com as vossas histórias... vocês são simplesmente de mais!

beijos para vós!