quarta-feira, 28 de março de 2007

O meu dilema .Chique - Parte 3

Lurdes Rodrigues, minha mãe, sempre fora uma mulher honesta e dedicada à sua família. O meu pai, Mário Rodrigues, sempre fora trabalhador e um homem de valores. Mas ambos guardavam um segredo… Um segredo que permanecera assim até àquela data.

* * *

Não quis acreditar no que os meus olhos me mostravam. Não podia ser verdade. Simplesmente, não podia. Mas era… A pura verdade. Diante dos meus olhos. Mas… o que aconteceu, realmente? A Fifi conta-vos, não se preocupem.

A tarde iniciava-se calma. Provavelmente, muitos espanhóis un-chiques que imigraram para Portugal dormiam a sesta, deitados nos bancos ou nas relvas fortalecidas por fertilizante natural (leia-se cocó de cão) da cidade de Cascais, quando se deu o acontecimento que iniciaria a mudança da Fafa.

Aquilo que eu e a Bá vimos foi uma coisa extremamente chocante na época mas agora profundamente normal: duas mulheres aos beijos.
.Choque
E quem eram as duas mulheres?, perguntam-se vocês. Pois... eram a Fafa e uma rapariga da nossa turma, a Marta. Aos beijos, ali, entre os arbustos. Deitadas na relva. Felizes. Não acreditava.
Quando nos viram, foi como se vissem o Diabo un-chique. Levantaram-se e afastaram-se rapidamente, lembro-me precisamente como se estivesse a acontecer agora, e Marta saiu dali. Por seu lado, Fátima apanhou os cadernos que tinha na relva e levantou-se. Nem nos olhos nos olhos. Limitou-se a caminhar para dentro da escola, sem nos dirigir uma palavra. Estava, claramente, envergonhadíssima.

- Credo... Coitada. - disse a Bá.
- Estou em choque! - assenti eu. - Mas...
- Precisamos de falar com ela, sei lá... Penso que é uma coisa normal!
- Tão normal como eu tomar banho sem água. - respondi.

A tarde passou, lentamente. As aulas eram cansativas, e a matéria era difícil. Por vezes, eu e a Bá trocávamos olhares... Aqueles olhares a denunciarem que pensávamos na mesma coisa: naquilo que víramos depois do almoço. Então, num intervalo, deixamo-nos ficar na sala à espera da Fafa, com a intenção de falarmos com ela sobre aquilo. Os nossos colegas saíram, sedentos por minutos de diversão a comentar as roupas dos outros, e nós esperámos por ela, que nada mais fez do que pegar na pasta e sair da sala, ignorando-nos.

- Enfim... - disse eu.
- Vamos atrás dela. - disse a Bá, arrastando-me para fora da sala.

Corremos pelo corredor, de mãos dadas e com as nossas saias a balançar-se conforme os movimentos das nossas pernas. Olhámos em volta. Continuámos a correr. Parámos.

- Onde raio se meteu ela? - perguntou-me Bá.
- Ali! - gritei eu, histerica e un-chiquemente. - Na máquina dos sumos light! - olhámos as duas.

Caminhámos por entre a multidão de estudantes que falavam entre si sobre banalidades, como numa escola típica de Cascais, e aproximámo-nos de Fafa, que, depois de comprar o sumo e, vendo-nos, começava a fugir novamente.

- Espera! - disse eu.
- Precisámos de falar. - concordou a Bá.

Fafa olhou para nós, claramente envergonhada. Procurámos um sítio isolado onde pudéssemos falar calmamente as três, sem ninguém para nos interromper. Minutos depois, num compartimento da casa de banho das raparigas un-chiquemente degrada, olhávamo-nos. Foi a Bá a primeira a falar.

- Olha... não te preocupes. Nós compreendemos aquilo que vimos...
- Desculpa, mas não compreendem nada! - gritou a Fafa. - Uma rapariga com uma rapariga, onde já se viu isso?! Se quiserem, podem gozar comigo à vontade. Eu sei que é errado e mere...
- Fá, cala-te. - disse eu. - Nós somos tuas amigas, e, como a Bá disse, compreendemos.
- E aceitamos. - disse a Bá.
- Por isso, apoiamos a vossa relação a cem por cento.
- E guardamos segredo. - concordou a Bá.
- Credo, somos melhores amigas! Não tens nada que nos esconder, sabes disso!

Fafa começou a chorar e abraçou-nos às duas com uma força enorme.

- Obrigado, amigas! - gritou.

Nesse dia, só pude estar com Norberto ao final das aulas. Ele levou-me até casa de mãos dadas e limitámo-nos a apreciar a paisagem que nos rodeava. Eu, no entanto, vivia uma ilusão, como o descobriria mais cedo do que poderia imaginar...

À noite, jantei, silenciosa, e permaneci no quarto deitada na cama a observar as estrelas, pensando em tudo. Os meus pais não me disseram uma única palavra ao jantar, e continuavam a proibir-me de sair de casa sem ser para ir à escola. Definitivamente, a minha vida podia estar bem melhor. O céu estava belo, e calmo. Uma calma que a minha vida perdera uns dias antes. E ainda muita coisa faltava acontecer.

No dia seguinte, tivemos aulas apenas de manhã. Mas, como tínhamos combinado estudar juntas nas escola as três, fomos almoçar a um café ali da zona e, enquanto comíamos pizza e bebíamos sumo, conversávamos.

- Então, quem diria... A Fafa a meter-se nestas coisas. - disse eu.
- Vocês pensam que eu sou certinha... Mas vocês não conhecem o meu lado un-certinho.
- Credo, Fafa. - disse a Bá. - Que segredos escondes tu?
- Muitos. - disse a Fafa, e rimo-nos as três. Mal sabíamos que, apesar de ela estar a brincar quando disse aquilo, a vida lhe destinava algumas surpresas desagradáveis (as quais ela já contou na sua história).

Pagámos a conta e abandonámos o café. O dia estava solarengo. Continuámos a caminhar para a escola a conversar. Porém, uma mulher intromete-se no nosso caminho. Arminda, aquela mulher.

- Continuem. - disse eu.
- Tens a certeza? - perguntou a Bá.
- Tenho. - respondi.

E assim o fizeram. Aproximei-me dela e ela apenas me disse:

- Vem comigo, preciso de mostrar-te uma coisa.
- Mas vou ter aulas!
- Faltas.
- Não posso!
- É urgente.
- Não está a entender... os meus pais matam-me!
- Que matem. - disse, e puxou-me pelo braço. Caminhámos pela cidade durante quinze minutos, e parámos perto de uma casa velha.

- O que é isto? - perguntei.
- Não querias provas? - disse-me, e puxou-me para dentro de casa.

A casa era un-chiquemente decorada. Tinha mobília velha e havia pó por todo o lado. Caminhámos por um corredor até à sala e ela sentou-se no sofá.

- Senta-te também. - disse-me.
- Prefiro ficar de pé... - respondi, vendo uma barata no sofá ao lado.

Começou a mostrar-me fotografias de uma bebé e a falar, a contar a sua história. Já não me lembro direito como ela disse as coisas, mas falou muito. Segundo Arminda, ela era uma brasileira a tentar a sua sorte em Portugal quando me teve. Mas, era pobre. Tinha poucos estudos. E, além disso, estava no nosso país ilegalmente. Então, a única solução que arranjou antes de partir para o Brasil foi abandonar-me num convento.

- E como espera que acredite em tudo isso...? - perguntei.

Ela mostrou-me mais uns documentos e convenceu-me. Mostrou-me o meu registo de nascimento e... era verdade. Meu Deus, era verdade! Eu tinha sido adoptada... e a minha verdadeira mãe era uma mulher pobre, que vivia cá ilegalmente. Não. Os meus pais verdadeiros foram aqueles que me criaram. Sim. Lurdes e Mário Rodrigues, não uma mulherzinha qualquer que chegava ali e me contava aquelas histórias. Exactamente. O que eu estava ali a fazer, então? Apercebi-me naquele momento de que fora um engano ter vindo com aquela desconhecida.
Corri para a porta.

- Filipa, espera! - gritou ela.

Não olhei para trás. Corri o mais depressa que pude para a escola. Nas horas seguintes, procurei não pensar no assunto. No final das aulas do dia seguinte, eu e as outras duas conversávamos enquanto nos dirigíamos para a paragem de autocarro.

- Então, Bá, como vai o tratamento? - perguntou Fafa.
- Vai bem... amanhã vou novamente ao hospital, de manhã...
- E tu, Fifi, como vai a tua relação com o Pascoal?
- Não lhe chames isso! - gritei. - Odeio esse nome!
- Okay, okay... Estava só a brincar! - respondeu ela.
- Mas diz lá, como vai. - continuou Bá.
- Bem... ficámos de nos encontrar logo para estudar. - respondi. - Então e tu e a Marta?
- Estamos bem. Estivemos juntas há bocado, às quatro.

E assim continuámos. Depois de sair do autocarro, caminhei um pouco até chegar ao meu prédio. À porta, encontrei Norberto.

- Olá. - disse eu.
- Olá. - respondeu ele.

Olhei em volta. Estávamos só nos os dois ali. Era seguro. Beijei-o. E entrámos. Enquanto estudávamos Matemática, um pouco depois, Norberto começou a agir de forma... estranha. Sim, estranha. Começou a deixar os estudos de lado e a focar a sua atenção em mim... sempre a colocar a sua mão nas minhas pernas, sempre a dizer coisinhas pirosas.

- Viemos aqui para estudar ou para estar na marmelada? - perguntei.
- Sempre podemos fazer uma pausa...
- Podemos. - disse e ri-me.

Deitamo-nos sobre a cama e começámos a beijar-nos. Aquilo estava a ficar intenso. A certa altura, ele tentou tirar-me a camisola e aí apercebi-me de que tinha ido longe de mais. Puxei a camisola para baixo, e ele tentou puxá-la novamente.

- Pára. - disse eu.
- Que foi?
- Estamos a ir longe de mais... não achas?
- Desculpa? Eu acho que não. Não me digas que queres ir virgem para o casamento!
- Não me sinto preparada...

Norberto começou a beijar-me o pescoço, novamente. - Claro que sentes. - disse ele.
- Não, pára! - gritei.

Mas ele continuou. E eu vi-me forçada a esbofeteá-lo.
Fi-lo.
Norberto afastou-se e levantou-se.

- Que raio de namorada és tu que nem queres sexo comigo? - perguntou, e abandonou o quarto.

Fechei a porta do quarto à chave e envolvi-me nos lençóis, olhando o céu. Ai, como estava calmo... Sentia-me culpada pelo que acontecera. Norberto conseguira isso. Estava triste. Recostei-me sobre a almofada e fiquei assim deitada por muito tempo... Como gostava da sensação, do isolamento... Ingenuamente pensando que as minhas dores de cabeça e preocupações se ficariam por ali.
* * *

11 comentários:

Anônimo disse...

oi fifi

só para dizer que estou a adorar a sua aventura e que gosto muito da sua forma de escrever. quantas partes vai ter esta confissão?

aguardo resposta, beijo

Anônimo disse...

meu deus adorei

5* mesmo!!!

bravo!!!


beijos

Anônimo disse...

a fifi é adoptada...

penso que as origens dela justificam a sua forma de ser...

enfim

xau

Anônimo disse...

ola

a Fafa teve uma relação lésbica?

venho por aqui expressar o meu agrado em saber esse detalhe pois, tal como muitas pessoas, sou homossexual.

e gostava de saber se a Fafa está interessada numa relação comigo...

beijos!

Anônimo disse...

Ola queridas


Eu tambem sou adoptada e sei o que sofri quando soube que o era. Foi extremamente doloroso para mim e sabia que tinha de fazer uma escolha. Optei por ficar com os meus pais adoptivos, pois foram eles que me criaram e que me viram crescer. Espero ler a 4a parte rapidamente.

Anônimo disse...

A Fafa é que nunca mais postou... tou com saudades dela!!!!!!

adorei esta parte, querida.

beijos para as 3

Anônimo disse...

Se a fifi não se sentia preparada para um acto sexual, ele só tinha de respeitar. Admiro a sua força de vontade! Muito bem! Beijinhos*


aqui lhe deixo o meu e-mail: jonny_fixolas@hotmail.com

era do meu filho, por isso é que é assim.

Anônimo disse...

ola

que novela aqui vai...

beijos

Anônimo disse...

Dveh ter xido orrivel. Mx pronto vxeah vai cntinuar a gxtar da xua mae adoptiva cmuh mae, e é axim keh tem deh xer.

Flixidax

Anônimo disse...

ola joia

bem, estou em choque. a fafa teve uma relaçao com uma rapariga... (adorei o vosso apoio!!!!!), a bá teve cancro... (coitada), a fifi tem problemas de identidade (credo, conheço casos parecidos) e o namorado quer ter relaçoes sexuais contra a vontade dela (o norberto nunca me enganou, a mim...).........!!!!

espero que conte mais pormenores brevemente

beijos

Anônimo disse...

ola

graças a este e aos posts anteriores do seu dilema chique, consegui recordar-me de como era ser adolescente... obrigado!

beijinho