sábado, 3 de março de 2007

O meu dilema .Chique

Oi jóias!

Começo então este chique post por explicar o porquê de escrever sobre acontecimentos que se passaram há já alguns aninhos: primeiro, porque não tenho grandes acontecimentos que me tenham ocorrido recentemente para vos contar, segundo, porque foi uma coisa que me marcou e que alterou o rumo da minha vida.

O ano de 1987 foi difícil para todas, não só para a Fafa, como vão poder descobrir ao ler o que escrevo agora mesmo.

Lembro-me perfeitamente daquele dia, 14 de Fevereiro de 1987, como se fosse hoje. Naquela altura eu, Filipa Rodrigues, tinha os meus tenros 19 anos, e pouco sabia da vida além de que devia estudar muito para atingir resultados brilhantes, não perder a virgindade antes do casamento e lutar pelo meu sonho: ser professora.
O dia começara cedo e frio, em Cascais, e eu dirigi-me para a escola de camioneta, uma camioneta un-chique e algo velha, acompanhada da Fafa e da Bá.

- Logo não vou poder ir comer gelado convosco. - disse a Fafa.
- Porquê? - perguntou a Bá.
- Tenho que estudar.
- Mas é dia dos namorados... - disse eu.
- Para vocês.

Nessa altura, eu nutria sentimentos por um amigo da minha turma, um rapaz bonitíssimo cujo nome horrendo era Pascoal (como ele era conhecido entre nós, pois eu tratava-o pelo seu primeiro nome, Norberto) e esperava que naquele dia ele me mostrasse se era recíproco, depois de algumas semanas a dar-me sinais de que o que ele sentia era mais do que amizade.

- Vejam lá se têm juízo, vocês... - alertou-me uma ingénua Fafa, à tarde, quando uma amiga nossa, a un-chique Laurinda, me veio dizer que Norberto queria falar comigo na sala 101.
- Fifi, já sabes, não mostres que estás nervosa e não te atires de cabeça! - disse-me a Bá, enquanto me levavam pelos corredores da escola até à distante sala 101.

Norberto esperava-me, sentado sobre uma mesa, com as mãos a tremer e um sorriso sexy naquela cara que me fazia pensar loucuras qu não devia, segundo a educação religiosa que e fora dada. Entrei, e elas ficaram à porta, de certeza a escutar tudo.

- Olá.
- Olá. - respondi. - Então, mandaste-me...

Norberto Pascoal não me deu tempo de terminar aquela frase, amarrou-se a mim e deu-me um beijo longo e cheio de saliva, saliva que engoli misturada com a minha e me fez sentir uma rapariga realizada. Depois, outro. E outro. Deitámo-nos sobre a mesa, eu em cima dele, a beijarmo-nos, até que o som da campainha horrenda tocou, separando-nos.

- Até logo. - disse eu.
- Até logo.

Não consegui estar muito atenta nas aulas que tivemos à tarde, como podem imaginar. Só conseguia pensar naqueles escassos 15 minutos passados na sala 101. Na aula de Língua Portuguesa, o professor chegou a advertir-me para estar atenta, caso contrário me arranjaria uma cama onde dormir. Eu ri-me, e tentei prestar mais atenção à sua aula, sem sucesso. No entanto, uma hora mais tarde, durante a aula de Matemática, uma coisa chamou a minha atenção: Fafa tinha faltado à aula. Todos falavam sobre isso. A Fafa, aluna sem uma falta sequer, faltara? Até a professora comentou.

- Alguma coisa deve ter acontecido. - disse eu.
- Pois, só pode. - respondeu a Bá.

A aula acabou e, à saída, encontramo-nos com Fafa. Uma coisa denunciou que algo de errado acontecera: ela já não tinha batom nos lábios, e eles estavam com aquele ar de que tinham beijado alguém.

- Estiveste aos beijos a alguém? - perguntou a Bá, e eu ri-me com ela.
- Não, credo. Aconteceu um imprevisto. Vou para casa, tenho que estudar. - respondeu a Fafa.

Eu e a Bá ficáms ali paradas, ao portão, a especular o que se tinha passado. Depois, Norbeto apareceu e eu fui com ele até minha casa, enquanto que a Bá decidiu ir para sua casa, tomar banho e vestir-se para à noite irmos comer um gelado a um café chique, de nome "Café, Doce Café". Despedi-me do Norberto com um beijo discreto, nas traseiras do prédio onde morava, e entrei em casa. Uma conversa entre o meu pai e a minha mãe tinha lugar na sala, e eu pus-me à escuta.

- A Arminda esteve cá... - ouvia a minha mãe.
- Aqui...? Em casa...?
- Não, no meu trabalho.
- Outra vez??
- Sim, não sei que faça... Ela insiste em ver a Filipa...
- Temos de fazer alguma coisa, Lurdes.
Entrei na sala, e perguntei o que se passava, quem era a tal Arminda. Nada me disseram. Desculparam-se, e desviaram o assunto.

- Amanhã não vais à escola, Filipa.
- Mas, Pai! Amanhã tenho teste a Biologia e não posso faltar!
- Filha, já falei...
- Então diz-me, porque é que não posso ir?
- Porque eu digo que não, ora! - gritou comigo. - E talvez não vás depois de amanhã, também!

Indignada, nada mais disse, refugiei-me no meu quarto. Sabia que no dia seguinte faltaria ao teste de Biologia e, ainda mais importante, não estaria com o Norberto no dia seguinte. Liguei à Bárbara, às escondidas. Mas ela não atendeu. Tentei novamente, mas nada. O que se teria passado? Adormeci, nessa noite, sem jantar.

Debruçava-me, no dia seguinte, sobre a escada de incêndio chique que o meu prédio tinha. Com mochila às costas, desci a enorme escadaria de metal, quando o sol nascia, sem o conhecimento de meus pais. Não me podiam prender ali, simplesmente. Senti-me uma criminosa a fazer aquilo, tive vontade de voltar para trás. Mas, se o fizesse, teria a média arruinada. Continuei a descer, e deixei o meu bairro com uma expressão de infelicidade, como nunca tinha sentido.

Ao longo do dia, aproveitei para estar com o meu Norberto, namorámos e passeámos, felizes. O teste correu-me bem, ainda me lembro, e, pensei eu, compensou a fuga. Mas havia duas coisas que me preocupavam, e eu ainda não sabia do que aconteceria no segundo intervalo da tarde. Uma delas era a Fafa, que mal a vi durante o dia. E a outra era Bá, que esteve triste e cabisbaixa o dia inteiro. Não falava, nem foi almoçar comigo nem com a Fafa, com de costume. Nem sequer estudámos um pouco antes do teste, como habitualmente o fazíamos.

Eram dezasseis horas no meu relógio chique quando eu abandonei a sala 79 para ir apanhar um pouco de ar. O recinto estava cheio de gente, cheio de alunas un-chiques a falar de moda e rapazes a apreciá-las. Caminhei por entre a multidão até à entrada da escola e sentei-me nas escadas ásperas. Eis que uma mulher un-chique começa a subir as escadas e se aproxima de mim.

- Filipa? - perguntou ela. Fiquei horrorizada.
- Sim...?
- Filipa, minha filha! - gritou ela, e abraçou-me.
Recuei dos seus braços e subi uns degraus, confusa com a situação.
- Quem é você, raios?
- Filipa, temos de falar, minha filha... vem comigo! Esperei tantos anos, e tu estás tão magricela, coitada!

Fugi dali para fora, e tranquei-me na casa-de-banho. Como o fazia sempre numa situação em que não sabia como agir: fugia para um sítio onde pudesse pensar, escapar ao que se passava. Porém, segundos depois, ouvi um choro abafado vindo do compartimento ao lado. Não era a única ali. Pus um pé sobre a sanita e trepei a fina parede que nos separava, para ver quem era.

- Bá? - perguntei.
Ela voltou o seu olhar para mim, lembro-me perfeitamente da sua expressão, e continuou a chorar. Desci e ela destrancou a porta.
- Bá, que se passa? - perguntei, mas ela não me contava. - Que se passa, fala comigo!!!
- Fifi... Eu... Tenho... Cancro. - respondeu, e quase me veio o coração à boca.
- O quê, como???
- Nos ovários. - disse, e eu apenas a abracei, com força, e disse uma quantidade de coisas para a acalmar, de alguma forma. E ali ficámos, por mais uma ou duas horas.

* * *

5 comentários:

Anônimo disse...

quero saber o que os seus pais fizeram quanto à sua fuga! e, ai meu deus, a bá com cancro? ai meu deus

Anônimo disse...

credo... voces contam cada aventura! adoro este blog! beijos

Anônimo disse...

o que se passava com a fafa???? ai a serio eu amo-vos minhas chiques

adoro simplesmente os posts

e

o

blog

beijos

Anônimo disse...

ola

eu tambem tive cancro nos ovarios e foi horrivel. apoio a bá em tudo gostava de saber o que se passou a seguir. beijos

Anônimo disse...

necessario verificar:)