sábado, 17 de novembro de 2007

A minha aventura .Chique (Terceira - Mas não Última - Parte)

Antes de terminar esta confissão .Chique, queria agradecer a todos os leitores sem grana, como os cariocas proferem, a todos os visitantes deste espaço, do hi5, a todos os simpáticos que adicionam no messenger, a todos que me enviam mail a pedir mais partes desta confissão. Temo que seja a peúltima, tentei recordar-me de todos os pormenores para vocês precisamente gostarem. Um beijo .Glamouroso para todos.

* * *
.A minha tia

A minha tia chique chamava-se Helena, era a mais nova das três irmãs da parte maternal. Eu admirava-a tanto. Escrevia romances eróticos dos mais deslumbrantes que podiam haver e adorava dançar. Morava na parte alta de Madrid, repleta de Glamour, digo-vos. Sempre que ela voltava para Cascais, nem que fosse por uma semana, falar com ela sempre me dava um enorme prazer. A decisão do meu pai, chocante e precipitante só começou a ter reacções no dia seguinte. Os empregados riam-se quando passavam pelo meu quarto na manhã. Estava escondida debaixo dos lençóis, sem querer aparecer.

Então, totalmente despenteada, senti um peso na cama. Comecei a pontapear o peso, deveria ser um peluche que tinha caído do tecto.

- Estás-me a magoar, querida. - Era a minha tia Helena.
- Tia!

Saí de baixo dos lençóis molhada de tanto chorar com os olhos inchados. Precisava de alguém para abraçar e assim o fez. Tia e sobrinha abraçaram-se na cama desfeita. Um momento tão íntimo, tão jovial, tão... chique.

- Que foste fazer, Fá? - Vocês querem alguém mais elegante?
- Tia, eu não queria!
- Conta-me tudo...
- Foi a Luiza que me obrigou a ir a um pub horrendo e un-chique, e depois veio um daqueles homens que parecem ursos tocar-me! Ele levou-me até o carro e pronto... - Menti.

Mentir sempre me dava um nó na garganta e Helena já sabia disso e sorriu para mim.

- Sou a tua confidente. Conta-me tudo que eu guardarei segredo.

E lá lhe contei. Não era exagerado dizer, assim, que ela era a minha tia favorita.

***
.O dia da Partida

Nos dias que se seguiram atemorizava-me a ideia do aborto, achava un-chique e muito constrangedor. Mal olhava para a minha família, sobretudo para a minha irmã Luíza que parecera muito desiludida comigo (talvez por ter transado, como dizem os cariocas, mais cedo do que ela esperava). Mas pouco me importei também. Quem precisa de irmãs quando se tem um mínimo de Fashion? Mas vi que esse mínimo ia desaparecer, porque quem faz um aborto, li numa revista, perde o sentido de chiquesa mais cedo do que esperam. Estava tão assolada.

A semana passou, no dia da partida estava eu a arrumar as minhas cinco malas de pele de leopardo para a viagem quando suspirei. A minha irmã Luiza olhava-me na porta. Quando me apercebi de tal feito tentei controlar-me, e respirei fundo, numa lufada de ar chique.

- Que fazes aqui? - Perguntei.
- Ai, Fá... admiro só o que vai ser o meu quarto.

Choquei-me. A minha irmã tinha um quarto dez centímetros mais pequeno do que o meu, como podia ela dizer tamanha estupidez? Numa semana, o mais tarde, voltaria a Cascais!

- Perdoa-me? - Interroguei.
- Sim. Minha querida, achas mesmo que depois de tirares o teu filho dessa coisa repugnante vais voltar para o Glamour de Cascais?
- Tenho a certeza!

Desconhecia esta faceta de Lu. Como podia ela estar a ser tão lambisgóia?

- Pois bem, nem tentes voltar, aviso-te. - Dizia ela caminhando em passos de uma quarentona, sabem?, como sou eu, actualmente.
- Sua...!

Selvagem. É o que designa o meu comportamento na altura. Como uma gorila, saltei-lhe em cima, comecei-lhe a puxar os cabelos e dei-lhe um estalo. Luiza retribuiu com beliscões nos meus seios, oh, como doía!

Naquele preciso momento uma empregada un-chique passou pelo corredor, olhou e pôs a mão à boca de tanto se rir.

- Ó Gertrudes, anda cá ver isto! - Chamou.

Gertrudes, com o aspirador na mão, veio ao corredor e riu-se alto com aquela empregadita de baixo nível.

As duas empregadas chegaram ao chão, imaginem, ao chão da minha casa!, a soltar gargalhadas rodeadas de um hálito que só Deus sabe onde se formou. Entretanto, a minha irmã continuava a agir como uma macaca e eu a imita-la. Mas que vergonha tenho eu de estar aqui deitada na minha cama a escrever isto, a lembrar-me quão ignóbil estava a ser.

Quando as duas empregaditas se levantaram, houve uma que foi a correr a chamar pelo senhor Gregório, meu pai. Não tardou que este viesse com a minha mãe e a minha tia.

Que humilhação! Queria parar, é uma certeza chique, mas não podia, não podia deixar-me vencer por aquela ratazana do esgoto que se dizia minha irmã. É que, sabem?, quem dá a última estalada é a que ganha. E estão-me a ver com cara de un-chique perdedora? Três letras, uma palavra: não.

Eu e a minha irmã ficamos paradas, agarrando os cabelos de uma e outra, enquanto que, com lágrimas a teimarem sujar a maquilhagem, via a minha tia Helena chocada e desiludida.

- Tia...

Mas eis que, com a tristeza a voar como borboletas nos corações da família, Luíza arranca-me o coral de pérolas.

- Sua...!

Macaca. O animal que estava a ser. Belisquei-lhe o mamilo, saltei para cima da sua barriga e comecei a esganar a minha própria irmã. O meu pai, furibundo, em passos gigantes e altos, aproximou-se.

- FÁTIMA! - Gritou. Gritou com um grito poderoso. Gritou de tal maneira que ficaram todos como que petrificados. Gritou.

Ele tinha afastado cada uma e, caída no chão, olhei para as pérolas espalhadas pelo chão. Porquê sofrer mais, perguntei-me?
Levantei-me, penteei-me. Peguei no baton guardado na minha mala e pintei os lábios. Com todos de boca aberta, saí do quarto e desci as escadas da casa, enquanto a minha tia me seguia. Já com a porta aberta saí da minha residência e, antes de entrar no carro, olhei em volta (um bonito dia de sol; um bonito jardineiro a "brincar", como os un-chiques dizem, com uma empregada da cozinha atrás dos arbustos; uma galinha a voar do telhado) e, respirando fundo, disse:

- Adeus, Cascais.

***
.Despedidas

Estava na estação de comboios com a minha tia, desanimada mas confiante de que tudo iria correr bem. Sentada na cadeira, com as pernas entrecruzadas, esperava que o comboio chegasse.

- Olhó télémóble! - Gritou um muçulmano que se dirigia para minha pessoa.
- Credo, senhor.
- Num é credo! É té... repita comeigo... té-lé...
- Poupe-me.

Cheirava mal. É naquele momento que avisto duas silhuetas, elegantes, esbeltas. Bá. Fifi.

- Querida! - Gritaram em uníssono as minhas duas melhores amigas enquanto corriam para me dar um abraço. A minha tia olhou de lado.
- Darlings! - Berrei, histérica e abracei-as com lágrimas nos olhos.

Naqueles minutos passei o tempo a falar com elas, enquanto que o muçulmano un-chique nos olhava, atento. Parecia um daqueles, credo, que nos vai cuspir a qualquer momento na nossa cara tratada.

O comboio tinha chegado e tivemo-nos de despedir.

- Bá. Fifi.
- Fafa.

E choramos as três, prometendo que nunca nos separaríamos. Quando o senhor que chamava os passageiros já batia com o pé no chão eu e a minha tia entramos no comboio onde os fedorentos se dirigiam para o lado esquerdo e os chiques, para o direito. Fui, obviamente, para o direito.

Na janela via Bá e Fifi de mãos dadas a chorar, e eu esbocei um sorriso forçado, para elas não se sentirem tristes. Mas estava despedaçada por dentro.

Sentei-me, de pernas cruzadas, e já o comboio andava a uma velocidade un-chique e olhava a minha vida a passar-me à frente. Literalmente.

Joaquim estava a dizer-me adeus, do lado de fora.

***
.Terror

Após o choque passar, não sabia eu que um maior estava para vir. Quem leu os jornais do dia seguinte pode confirma-lo. Estava a passar pelo norte de Évora, onde a Natureza predominava. Do lado de fora corriam bois, vacas, galinhas, enfim, un-chiques animais. Também se viam várias montanhas onde agora pessoas denominadas como "Pastores" caminhavam pelas flores.

- Enfim...

Mas eis que o inesperado acontece! Tão rápido como um copo de cristal a partir-se, o comboio para esganiçadamente, ouço berros do outro lado do compartimento; a minha tia acorda sobressaltada; vejo uma galinha na janela.

- Socorro! - Grito.

O caos. Os un-chiques entraram assustados na minha carruagem, os chiques abrem os guarda-chuva para afasta-los. Se fosse melhor, diria que estávamos em pleno ambiente da terceira guerra mundial. Então o comboio parou.

- Saiam todos. Já! - Ordenou o motorista suadamente un-.Chique que avizinhava um acidente de comboio que ia contra uma carruagem de animais de quinta.

A minha tia, assustada, correu para a porta em andamento e saltou, com a saia a saltar-lhe como a .Chique da Monroe. Mas o seu destino não seria tão .Chique. Morreria ela?! Como iria sobreviver? Saltava também ou deixava embater com as galinhas?! .Terror

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